quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O canto da baiana

Fechando essa trilogia "baianística",chega-se ao ponto mais importante da cultura baiana das 2 últimas décadas, talvez de toda história. Pois a revolução que começou naquele 15 de dezembro de 1992 persiste até hoje, e teve impactos não só artísticos, como também social e político.

Seja como for, do jeito que for, a verdade é uma só: a Axé Music é um fênomeno impressionante, ou pelo menos foi. Se depois do boom, industrializaram e encareceram demais o seu acesso a ponto de hoje não ser mais tão popular como era no começo, é uma outra história.

E coube a uma mulher ser a desbravadora, dar o pontapé inicial ao movimento axé, sim inicial, porque quando Luís Caldas e mais alguns começaram a fazer sucesso, o termo axé music nen sonhava em existir ainda, porque aqueles sons não incomodavam ninguém, eram vistos até com uma certa inocência pelos preconceituosos regionais de plantão. Não havia um movimento, uma cena organizada.

Só depois que Daniela Mercury subiu na Praça da Apoteose, em especial exibido pela Globo, e em consequencia disso O canto da cidade começou a tocar em todos os lugares e duas pencas de outros artistas, inclusive bandas que já existiam a uma certo tempo como Chiclete com Banana, Asa de Águia e Cheiro de Amor, invadiram o Brasil, é que a musica baiana passou a incomodar. Em função disso criou-se o termo axé music para ridicularizar a cena, mas o feitiço virou-se.

Assim o canto da cidade que era dela com propriedade, passou a ser visto andando a pé no gueto, na rua, na fé da cidade bonita, e a força ninguém conseguia explicar de onde vinha.

Pena que depois de um tempo, os baianos encantados(ou enfeitiçados) com outras musas e 'deusas', esqueceram tudo que ela havia feito e deixaram-se levar pelos boatos de que a Rainha do Axé era "metida", sendo que a "metida", até hoje é a única grande estrela do carnaval que toca dois dias em trio pipoca para o povão da Bahia e demais transeuntes.

Carnaval esse que começou a mudar muito de lá pra cá, justamente depois da explosão axé comandada por Daniela, ficou profissional, imenso, atraiu turistas, causou ciúme em outras praças carnavalescas(vide os pitis do então prefeito do Rio em 1994), e virou um grande negócio com inúmeras festas fechadas e micaretas de camisa durante o ano. De todas as estrelas do Axé, tem uma que não tem nenhuma festa superchique, supercara, associada ao seu nome, advinha só quem é ?! Pois é, a cor dessa cidade somos nós, o canto dessa cidade é nosso!

O Canto da Cidade
Daniela Mercury
Composição: Tote Gira / Daniela Mercury


A cor dessa cidade
Sou eu!
O canto dessa cidade
É meu!..(2x)

O gueto, a rua, a fé
Eu vou andando a pé
Pela cidade bonita
O toque do afoxé
E a força, de onde vem?
Ninguém explica
Ela é bonita...

Uô Ô!
Verdadeiro amor
Uô Ô!
Você vai onde eu vou...

Não diga que não me quer
Não diga que não quer mais
Eu sou o silêncio da noite
O sol da manhã...

Mil voltas o mundo tem
Mas tem um ponto final
Eu sou o primeiro que canta
Eu sou o carnaval...

A cor dessa cidade
Sou eu!
O canto dessa cidade
É meu!...






3 comentários:

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  3. Estou gostando dos seus surtos de escritor! Ler sobre a Bahia, mesmo com tanta criticidade, é encantador! Carnaval mesmo com todos os seus defeitos é a festa mais democrática do mundo, mesmo com os palcos montados no bairros para que a população "preta e pobre" não participe do circuito oficial...
    O axé, muito diferente de alguns anos atrás, com o único intuito(vender) para a elite, ainda é uma música calorosa e que no meio na multidão, ainda dá arrepios e emociona quem assiste tudo, seja na televisão ou pessoalmente!
    Só quem é baiano entende, de verdade, essa "magia"!
    "eu queria que essa fantasia fosse eterna, quem sabe um dia a paz vence a guerra, e viver será só festejar"

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