domingo, 24 de janeiro de 2010

A vida começa antes de nascermos


Há muito que queria postar aqui algo sobre a minissérie Dalva e Herivelto:uma canção de amor. Pois é, a emissora oficial do Brasil de vez em quando e quando quer acerta, afinal podem falar o que quiser, mas qualidade técnica e artística eles tem de sobra. E aí quando dão na telha, resolvem usar tudo que sabem.

Além de revelar a história tortuosa das estrelas da época do rádio, Dalva de Oliveira e Herivelto Martins, a minissérie revelou para as gerações mais novas, tanto a geração televisão quanto a geração internet e celular, que existia muita vida útil antes de tudo isso. Como somos um país sem memória, as vezes achamos que tudo que não passa em videotape como os gols do Pelé, não existiu.

Pois bem, na série vimos personagens vibrantes, cores reais, alegrias e tristezas tão ou mais intensas que as de hoje em dia, além de uma rica musicalidade.
Pra quem gosta de música e não se prende as paradas de jabás atuais, foi um prato cheio. Pôde-se descobrir a origem de músicas que escutamos até hoje e outras que pelo menos pra mim e certamente pela maioria de nossa geração, eram desconhecidas. Um festival de belas canções que não devem nunca serem esquecidas, porque música boa nao tem idade, tem identidade.

Há de se destacar as ótimas atuações dos atores principais:Adriana Esteves e Fábio Assunção,este então renascendo em grande estilo depois de tudo que passou. As atuações convincentes dos dois e dos demais, só ajudaram a reescrecver aquele pedaço da história meio que recente, porém meio esquecida do Brasil.

Abaixo a letra da bela composição de Herivelto, Ave Maria no Morro, e um vídeo dele ainda vivo cantando com seu filho Peri Ribeiro num programa de TV, e também um vídeo retirado da minissérie com atores,cantando/interpretando Adeus Estácio. Para quem aparecer por aqui e chegar até o final desse post, boa audição/visão e saiba que existia muita vida antes da gente nascer. Mas, ô se existia. Muita felicidade de arranha-céu e muitas belas alvoradas existiam.

Ave Maria No Morro
Herivelto Martins
Composição: Herivelto Martins

Barracão
De zinco
Sem telhado
Sem pintura lá no morro
Barracão é bangalô
Lá não existe

Felicidade
De arranha-céu
Pois quem mora lá no morro
Já vive pertinho do céu

Tem alvorada
Tem passarada
Ao alvorecer
Sinfonia de pardais
Anunciando o anoitecer

E o morro inteiro
No fim do dia
Reza uma prece
À ave maria
E o morro inteiro
No fim do dia
Reza uma prece
À ave maria

Ave maria
Ave



sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Festival de...

E tá rolando o Festival de Verão Salvador, aquele festival que pega nomes consagrados da musica brasileira e coloca-os para abrir para bandinhas locais devidamente bem apoiadas em/por padrinhos mais famosos na cena local.
O festival que tem no seu palco principal justamente a “mistura” menos criativa e envolvente em termos musicais, em relação aos palcos secundários, a ponto de pela primeira vez ter que se fazer uma acintosa propaganda destes palcos para chamar público.
O festival que praticamente virou um show particular das 4 grandes estrelas locais, especialmente de 1, içadas pela rede de comunicação que realiza o evento. Tudo o mais que acontece no evento vira suporte para as estrelinhas brilharem.

A cada ano que passa aumentam o desinteresse das pessoas pelo festival e cresce o marketing em torno do mesmo, que já foi sim muito legal, quando era mais “musical”, e bastava uma grade principal escolhida sem interesses corporativos e um palco Pop adicional para fazer a alegria de quem gostava de música,seja que estilo fosse. Hoje em dia vai-se para o festival apenas para azarar(nada contra,muito antes pelo contrário) e para “adorar” as santidades musicais baianas, pelo menos os que são seus seguidores fiéi$.
Nem mesmo se pode mais acompanhar ao vivo a transmissão dos shows pela TV, o que também sempre foi uma marca do evento.

O fato é que todos os festivais do mundo seguem principalmente a indústria fonográfica, só que esta praticamente desapareceu no Brasil, com a música digital, o que só foi benéfico para os estilos musicais mais popularescos. Mas em um festival do tamanho da pretensão do FV Salvador,poderíamos e deveríamos esperar mais. Mais qualidade e coerência claro.
Enfim a melhor resposta para se dar a toda propaganda feita sobre o evento é uma “longa” letra dos Titãs, que segue abaixo.


Obrigado
Titãs
Composição: Titãs

Obrigado,
de nada
Obrigado,
a nada.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Cortejo armado, cortejo amado


Pois é, a essa hora a cidade baixa já respira os ares de uma das mais tradicionais e belas festas da Bahia: a lavagem do Bonfim.
A lavagem das escadarias da Igreja do Nosso Senhor do Bonfim(antes a lavagem se estendia até dentro da Igreja, mas isso é uma outra história...)segue como um grande marco cultural baiano, isso mesmo, cultural, porque as teorias religiosas na minha opinião, não sobrepôem as tradiçoes e costumes, elas apenas as complementam.
Não adianta os neocristãos de plantão, criticar esse ou aquele aspecto, afinal a Bahia,ou pelo menos Salvador,RMS e Recôncavo,são isso aí mesmo:uma região com fortíssimas ligações culturais de matrizes africanas.Cultura vem de culto, que desconfio vem de uma palavrinha ainda menor, e cada povo tem o seu.

Bem, talvez o rapagão ou a moçoila, de seus 20 e poucos anos,que frequenta uma faculdade, e mora na Orla,no mínimo em Brotas ou semelhantes, nao entendam o que estou dizendo, ou não entendam como o Bonfim Light tem tanta importãncia assim, pois é, pra essa gente bonita,é isso que se resume o dia de amanhã, já perguntei a algunas pessoas, se irão amanhã e eles responderam que nao tinham conseguido a camisa.

Uma das coisas que mais gosto de ver nestas festas tradicionais da Bahia, é o envolvimento dos "coroas". A turma que já passou dos 35,40, valoriza bastante esses eventos, canso de ver casais na casa dos 50,60 anos, descendo de branco pro Bonfim ou pra festa do Rio Vermelho, ou então aqueles coroas de 40 metidos a menininho pegador, indo sozinhos(o velho zig na patroa) pra encontrar os amigos da firma ou do baba, pra comer feijão,tomar unas geladas e tentar a sorte com as piriguetes.

As vezes penso o que vai ser dessas festas daqui a 20,30 anos, quando só restar a gente bonita e suas crias por aqui. Aliás, melhor nem pensar o que essa geração aculturada,individualista e preconceituosa, vai se tornar quando envelhecer.

Pena, que dessa vez não irei, estarei trabalhando.E nem eu, nem a Beth Carvalho no clipe abaixo,cantando um ótimo samba de Walmir Lima,estamos falando de se fantasiar de "gente bonita", pra poder "ser feliz" em flashs orkutianos. Enfim, cada um na sua, mas um pouco de respeito e informação sobre o que nos cerca e nos movimenta, seria bom.

Vou deixar de fazer a caminhada a pé até a colina, brincar, beber,me divertir com os arrastões de samba e de blocos afros,olhar curioso o cortejo e seus personagens pitorescos,o comportamento dos políticos, e principalmentre ver de perto a fé do meu povo, algo realmente belo por mais que já seja um clichê. Lembro que no ano passado quando finalmente cheguei a colina, já a noite com uns amigos,vi um rapaz se ajoelhar quase do meu lado sob o portão da igreja completamente tomada pelas fitinhas coloridas(outra bela imagem), ele fez um pedido ou agradecimento,quase uma oração,mas com tanta carga emocional, que imediatamente senti arrepios, e passei a entender melhor o significado da palavra BAIANO.

Ilha de Maré
Beth Carvalho
Composição: Walmir Lima e Lupa

Ah! Eu vim de ilha de Maré
Minha senhora
Pra fazer samba
Na lavagem do Bonfim
Saltei na rampa do mercado
e segui na direção
Cortejo armado na
Igreja Conceição
Aí de carroça andei cumade
Aí de carroça andei cumpade
Ah! Quando eu cheguei lá no Bonfim
Minha senhora
E da carroça enfeitada eu saltei
Com água, flores e perfumes
A escada da colina eu lavei
Aí foi que eu sambei cumade
Aí foi que eu sambei cumpade