sexta-feira, 24 de maio de 2013

Vende-se: casa no campo. Mas sem varanda gourmet...

Sobrevivência. Esta é a palavra que domina nossos pensamentos e instintos nos dias de hoje. Essa vida maluca nos leva apenas a este desejo. Querer mais do que sobreviver em meio a um mundo cada vez mais hostil, é luxo. Querer mais do que isso num país em que todos se acham donos dos espaços, das ideias e das vontades, é uma utopia. Achar um lugar em que alguém se sinta tranquilo, seguro e que possa desfrutar de qualquer vestígio de civilidade, se tornou um sonho distante.

E aí, os gênios da propaganda e do marketing, resolvem mudar o nome e/ou o idioma das coisas para convencer os mais ingênuos de que vão achar a felicidade na terra, paga em suaves prestações por 25 anos.
As empresas que vendem imóveis em condomínio fechado, transformaram a malhação em Espaço Fitness, as crianças agora brincam no Kids Room, e o local pra fazer o velho churrascão virou Espaço ou Varanda gourmet. Varanda gourmet? Não desce nem com molho shoyu.

Porque não fazem propaganda do vizinho rabugento do 201 que reclama quando acendem ou apagam a lâmpada externa do andar. Porque não mostram o volume sonoro em que a piriguete funkeira do 003 costuma dar seus bailes. E que tal aquele espaçoso do 302 que quer ocupar todas as vagas de estacionamento. Porque não dizem "e não é só isso, você ainda leva totalmente grátis" síndicos e funcionários mal-amados e mal-pagos, respectivamente, desempenhando suas atividades com aquela dedicação, carinho e vontade, bem peculiares. Socorro!

Esse novo modelo de atrair clientes de imóveis, diz muito sobre os dias de hoje. Já que não se pode garantir uma boa vizinhança, uma boa convivência entre as pessoas, então, vamos dar a elas novas traquitanas inúteis ou apenas mudar os nomes das que já existem, e chamar isso de felicidade. Que mal tem se 2 vizinhos rolarem da escada do quinto andar abaixo. Com sorte eles podem parar lá no Espaço Zen para concluir as suas vias de fato.

 E eu que sempre fui um cara urbano, totalmente avesso as coisas rurais, começo a pensar que a solução seria a que Tavito e Zé Rodrix, deram, ainda lá nos anos 70, e que foi acatada pela eterna Elis Regina.

Afinal, meus discos e livros merecem mais do que um Espaço Lual. Merecem uma noite inteira de tranquilidade, reflexão e prazer.



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