quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Cortejo armado, cortejo amado


Pois é, a essa hora a cidade baixa já respira os ares de uma das mais tradicionais e belas festas da Bahia: a lavagem do Bonfim.
A lavagem das escadarias da Igreja do Nosso Senhor do Bonfim(antes a lavagem se estendia até dentro da Igreja, mas isso é uma outra história...)segue como um grande marco cultural baiano, isso mesmo, cultural, porque as teorias religiosas na minha opinião, não sobrepôem as tradiçoes e costumes, elas apenas as complementam.
Não adianta os neocristãos de plantão, criticar esse ou aquele aspecto, afinal a Bahia,ou pelo menos Salvador,RMS e Recôncavo,são isso aí mesmo:uma região com fortíssimas ligações culturais de matrizes africanas.Cultura vem de culto, que desconfio vem de uma palavrinha ainda menor, e cada povo tem o seu.

Bem, talvez o rapagão ou a moçoila, de seus 20 e poucos anos,que frequenta uma faculdade, e mora na Orla,no mínimo em Brotas ou semelhantes, nao entendam o que estou dizendo, ou não entendam como o Bonfim Light tem tanta importãncia assim, pois é, pra essa gente bonita,é isso que se resume o dia de amanhã, já perguntei a algunas pessoas, se irão amanhã e eles responderam que nao tinham conseguido a camisa.

Uma das coisas que mais gosto de ver nestas festas tradicionais da Bahia, é o envolvimento dos "coroas". A turma que já passou dos 35,40, valoriza bastante esses eventos, canso de ver casais na casa dos 50,60 anos, descendo de branco pro Bonfim ou pra festa do Rio Vermelho, ou então aqueles coroas de 40 metidos a menininho pegador, indo sozinhos(o velho zig na patroa) pra encontrar os amigos da firma ou do baba, pra comer feijão,tomar unas geladas e tentar a sorte com as piriguetes.

As vezes penso o que vai ser dessas festas daqui a 20,30 anos, quando só restar a gente bonita e suas crias por aqui. Aliás, melhor nem pensar o que essa geração aculturada,individualista e preconceituosa, vai se tornar quando envelhecer.

Pena, que dessa vez não irei, estarei trabalhando.E nem eu, nem a Beth Carvalho no clipe abaixo,cantando um ótimo samba de Walmir Lima,estamos falando de se fantasiar de "gente bonita", pra poder "ser feliz" em flashs orkutianos. Enfim, cada um na sua, mas um pouco de respeito e informação sobre o que nos cerca e nos movimenta, seria bom.

Vou deixar de fazer a caminhada a pé até a colina, brincar, beber,me divertir com os arrastões de samba e de blocos afros,olhar curioso o cortejo e seus personagens pitorescos,o comportamento dos políticos, e principalmentre ver de perto a fé do meu povo, algo realmente belo por mais que já seja um clichê. Lembro que no ano passado quando finalmente cheguei a colina, já a noite com uns amigos,vi um rapaz se ajoelhar quase do meu lado sob o portão da igreja completamente tomada pelas fitinhas coloridas(outra bela imagem), ele fez um pedido ou agradecimento,quase uma oração,mas com tanta carga emocional, que imediatamente senti arrepios, e passei a entender melhor o significado da palavra BAIANO.

Ilha de Maré
Beth Carvalho
Composição: Walmir Lima e Lupa

Ah! Eu vim de ilha de Maré
Minha senhora
Pra fazer samba
Na lavagem do Bonfim
Saltei na rampa do mercado
e segui na direção
Cortejo armado na
Igreja Conceição
Aí de carroça andei cumade
Aí de carroça andei cumpade
Ah! Quando eu cheguei lá no Bonfim
Minha senhora
E da carroça enfeitada eu saltei
Com água, flores e perfumes
A escada da colina eu lavei
Aí foi que eu sambei cumade
Aí foi que eu sambei cumpade

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quem não tiver perfil no blogger/google, clique na caixinha e selecione a opção anônimo. Podendo se identificar no corpo da mensagem. Abraços!