Vivendo a vida que não imita a arte

Imagine o seguinte: você tem um/uma namorado(a) e aí seu irmão/irmã passa a dar em cima dele(a), você fica chateado claro, até que você briga com seu/sua parceiro(a) e aí logo depois o seu querido(a) irmão/irmã começa a namorar com ele/ela mal esfriou o lugar vago. O que você, seus familiares e seus amigos próximos pensariam e diriam sobre seu irmão/irmã?!

Bom, se for numa novela das 8 vão dizer que ele é um fofo, que é mais bem humorado e que por isso merece levar o grande prêmio para casa. Pois é, incrível como as pessoas sucumbem e mudam seus valores diante da telinha, as mesmas pessoas que normalmente acusariam o irmão Miguel rei da brincadeira, de ser traíra e vitimizariam o irmão Jorge rei da confusão, tem opiniões completamente contrarias quando a história passa para o folhetim, será que é porque o autor da novela induz para que seja assim?
Na novela das 8 não há um único personagem que acuse o irmão Miguel rei da brincadeira, de nada, porque ele é fofo e pronto. Já o irmão Jorge rei da confusão, que foi passado para trás, é taxado de tudo, e não tem nem o direito que na vida real qualquer um alegaria para si, de dar unas merecidas porradas no irmão sem que seja rotulado como incompreensível, ranzinza, mal humorado etc e tal. O cara perde a mulher pro irmão e nego quer que o cara ande sorrindo a toa. E o público acena positivamente pra toda essa amostra de trairagem.

É realmente impressionante as reações das pessoas frente a televisão, parece que na novela tudo pode, tudo é normal, a não ser os personagens feitos sob encomenda para serem apedrejados, mesmo que a sua conduta moral na trama seja mais verossímel do que a do mocinho, se comparado com a vida real. Aí vem aquela história do amor perfeito, que quando duas pessoas se apaixonam ninguém pode impedir, é tudo permitido e tal. Bom, muitas bobagens e erros são feitos em nome do amor e da paixão, inclusive crimes terríveis, portanto na minha opinião pelo menos, não se justifica. Ou será que sou insensível por achar que a paixão não justifica tudo. As vítimas de crimes passionais que o digam.

Queria muito ver de perto isso acontecer com alguém que apóia o irmão Miguel brincalhão, queria ver o cara perder a mulher pro irmão e observar se ele ia achar normal porque o brother dele é fofo e bem humorado, ou se ele iria querer fazer que nem o José fez com João na ótima Domingo no Parque de Gilberto Gil, que me parece ser a trilha sonora ideal para esse tema da novela, quem conhece sabe do que estou falando, quem não conhece, tem letra e vídeoclip logo abaixo para se inteirar. Aliás fica a pergunta; como o público reagiria se como na música, fosse o brincalhão que perdesse Juliana ou Luciana, para o rei da confusão hein?! Pois é, espinhos na pele dos outros vira sorvete de morango.

P.S. quem quiser ver a gravação original de Gil com os Mutantes no festival da canção de 1967, o link está aqui.

Domingo no Parque
Gilberto Gil
Composição:Gilberto Gil

O rei da brincadeira (ê, José)
O rei da confusão (ê, João)
Um trabalhava na feira (ê, José)
Outro na construção (ê, João)

A semana passada, no fim da semana
João resolveu não brigar
No domingo de tarde saiu apressado
E não foi pra Ribeira jogar capoeira
Não foi pra lá, pra Ribeira, foi namorar
O José como sempre no fim da semana
Guardou a barraca e sumiu
Foi fazer no domingo um passeio no parque
Lá perto da Boca do Rio
Foi no parque que ele avistou Juliana
Foi que ele viu
Foi que ele viu Juliana na roda com João
Uma rosa e um sorvete na mão
Juliana seu sonho, uma ilusão
Juliana e o amigo João
O espinho da rosa feriu Zé
E o sorvete gelou seu coração

O sorvete e a rosa (ô, José)
A rosa e o sorvete (ô, José)
Foi dançando no peito (ô, José)
Do José brincalhão (ô, José)

O sorvete e a rosa (ô, José)
A rosa e o sorvete (ô, José)
Oi, girando na mente (ô, José)
Do José brincalhão (ô, José)

Juliana girando (oi, girando)
Oi, na roda gigante (oi, girando)
Oi, na roda gigante (oi, girando)
O amigo João (João)
O sorvete é morango (é vermelho)
Oi girando e a rosa (é vermelha)
Oi, girando, girando (é vermelha)
Oi, girando, girando...
Olha a faca! (olha a faca!)

Olha o sangue na mão (ê, José)
Juliana no chão (ê, José)
Outro corpo caído (ê, José)
Seu amigo João (ê, José)
Amanhã não tem feira (ê, José)
Não tem mais construção (ê, João)
Não tem mais brincadeira (ê, José)
Não tem mais confusão (ê, João)